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Melhor Política

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A inconcebível e terrível desumanidade no Hospital de Loures.

Outubro 29, 2023

Sérgio Guerreiro

A falência do país é nítida, notória e grave. Assistimos todos os dias a um constante atentado ao Estado de Direito e ao Estado Social . Portugal falha em todas em frentes. Uma mulher de 32 anos, grávida de oito meses, soube na passada terça-feira, numa consulta no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, que a bebé estava morta e teria de remover o feto. Foi enviada para casa nesse e no dia seguinte por falta de vagas.

A Tânia, foi mais uma vítima da falência do País e do ministro da tutela, nem uma palavra.

 

A inimaginável história desta nossa compatriota, deve fazer-nos refletir.

Não somente aos órgãos competentes e executivos mas também a cada um de nós na medida em que hoje, com a falência total no nosso Estado Social, o que tristemente aconteceu à Tânia Dias pode perfeitamente acontecer a qualquer mulher grávida deste país.

Portugal, trata-nos mal. As instituições e os serviços aos quais recorremos quando deles precisamos, para além da sua escassez material, estão desumanizadas.

O caso da Tânia não é, creio, só um caso de falta de recursos ou de vagas, tem contornos de falta de capacidade humana para se perceber que uma mãe nas condições análogas à Tânia Dias não poderia ir para casa com a sua bebé morta dentro dela. Estará assim em jogo não só a sua saúde física mas também, e muito importante a sua saúde mental.

Toda esta história, torna este país indigno. Um país que maltrata as grávidas como se não fosse preciso fazer crescer o índice de natalidade é um país que não serve o seu desígnio.

Estamos a viver tempos estranhos.

É urgente parar para pensar e reflectir na sociedade que estamos a destruir em que todos se estão a borrifar para todos.

Atingimos os limites da razoabilidade social. E o mais grave, é que  assistimos s  isto “serenamente” como se tudo fosse normal e aceitável dento do âmbito da esfera pública dos serviços. Não o é em lado nenhum.

É indigno ler a história desta jovem que quis ser mãe, mas enquanto o destino lhe trocou as voltas à vida, o hospital de Loures trocou o mais básico princípio humano - o respeito pela dor de uma mãe - por uma incompreensível e desumana  atitude.

Enquanto é tempo não será necessário existirem mais vítimas mas isso só acontecerá  quando a consciência daquele que manda, que analisa e que toma decisões, se tornar mais compreensível, mais humanista e parar por um segundo apenas para pensar na dor dos outros.

 

Com tudo isto fica uma simples pergunta:

 

Valerá a pena acreditar nos homens que hoje mandam ?

 

 

Educação: os alunos são o maior activo que um país pode ter.

Janeiro 18, 2023

Sérgio Guerreiro

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Há uma tradução objetiva que deve ser aplicada a esta greve dos professores: os alunos não têm aulas.

Numa sociedade global e altamente competitiva, a educação é um pilar demasiado importante para que a sistemática luta, com toda legitimidade, dos professores não seja resolvida de uma vez.

 

Quem perde, é o país.

 

Não pode uma nação perder mais tempo na medida em que vai deixando para trás a possibilidade de os nossos alunos estarem cada vez mais longe de poderem competir com outros de estados que mantêm a estabilidade neste tão importante sector para o desenvolvimento social e económico de uma qualquer nação.

O tempo é escasso, as matérias que não  são dadas não são aprendidas e o calendário, esse não perdoa.

Como podem assim os nossos alunos mostrar que são tão bons ou melhores que os outros?  Não podem porque não os deixam provar a sua qualidade.

 

Em todas as greves há um outro lado.

Se não temos comboios, os utentes sofrem a consequência e terão que arranjar uma alternativa.

Se não há médicos, ficam consultas por fazer, mas se não há educação, se não há aprendizagem, é o país inteiro que a longo prazo sofre.

 

As diversas questões que estão em cima, e seu prolongamento no tempo, direi mesmo, questões de décadas por resolver relembrando que a paixão política de António Guterres era a educação, dão-nos a terrível sensação da inexplicável despreocupação de quem nos governou e de quem nos governa a este tema.

Quando por outro lado, se invoca a ilegalidade da greve dos professores, também devemos questionar se há intenção de resolver a questão, ou se com isto se pretende intimar uma classe primordial no desenvolvimento do país.

Com isto, refiro-me à forma como a tutela está a lidar com esta preocupante situação. Por alguma razão, a palavra de ordem que mais se ouve nesta manifestação é , respeito.

Qualquer governante a braços com a revolta no sector na qual aplica as suas políticas e quando utiliza mecanismos que de alguma forma são inadequados e porque não dizê-lo, intimidatórios, isto significa que está a não querer contribuir para a solução.

Pondo mais lenha nesta fogueira que já arde há demasiado tempo, agudiza a problemática escudando-se a abrir a porta na procura de respostas, contribuindo para uma questão acessória que é imoralmente aceitável. Transferir o ónus dos incómodos desta greve nas famílias para professores fazendo deles o bode expiatório, é de facto pouco ético.

 

Há que perceber os riscos a longo prazo com a situação na qual os professores se deparam, caso contrário, é o país que paga mais uma pesada factura.

Sabemos que ninguém quer ir para professor, da mesma forma que poucos são os médicos que querem em exclusivo trabalhar no serviço nacional de saúde.

Também sabemos que grande parte dos jovens pensam em sair do país. E as razões tem um ponto comum: a falta de motivação e de condições financeiras que o país não consegue dar.

 

Estamos à beira do colapso, e na rua já sente a revolta.

A educação é um pilar essencial e olhar para ele de lado pondo mais uma vez as problemas do sector debaixo do tapete, é passar já um atestado de óbito ao país.

 

Os alunos hoje são o maior activo que o país ainda tem, e o que neste momento estão a fazer aos professores, é abandonar claramente todos aqueles que hoje querem aprender.

Quando um Estado de Direito Democrático abandona o serviço público de educação, então é melhor declarar já a insolvência do país.

O que mudaria na nossa história se mudassem o nosso hino? Exacto, nada.

Janeiro 10, 2023

Sérgio Guerreiro

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Há por aí um conjunto de vozes que têm vindo a público sugerir que se altere o nosso hino nacional. Um dos apologistas de uma nova versão de A Portuguesa vem pela voz do cantor Dino D’ Santiago.

O cantor cabo-verdiano de 41 anos de idade propôs alterações ao Hino Nacional: "Já é tempo de termos um hino menos bélico, que incentive menos às guerras, não gritemos mais ‘às armas, às armas’, não lutemos mais contra canhões, não marchemos mais contra canhões".

 

Aceito, a ideia, mas fiquemos por aí mesmo.

Toda a composição do nosso hino que deve ser visto com um dos poucos símbolos nacionais, quer a nível musical quer a nível poética não tem qualquer mensagem que apele à violência. Há no entanto um inegável contexto enquadramento histórico.

 

Creio, que não há nenhuma nação com um dos seus maiores símbolos, como é o hino nacional, que na sua letra apele à violência.

O estado dos dias e da intervenção social e política do momento que se atravessa, mais ou menos exagerada no discurso, não é culpa do hino.

Se é factual que devemos deixar aos nossos sucessores um país melhor, mais humano e mais desenvolvido, então que não se apague a nossa história. É dela e só dela, que se poderá com verdade um revistar o passado, aquilo que já fomos para saibamos l que não queremos voltar a ser e aquilo que também já conquistamos e que gostaríamos de novo alcançar.

A história desta nação que nasce em 1143 está repleta de factos que não devem jamais ser ignorados. Factos esses, que mesmo que nos envergonhem não os devemos esquecer, da mesma forma que possuindo um vasto património de memória em conquistas as devemos sempre ter ao peito.

 

Esquecer e apagar a história, alterar os seus factos e os seus feitos, é apagar uma nação inteira , e mudar o hino não tornará nada melhor. Quem muda a nação, são os homens e as mulheres providos de ética e de moral.

Nada muda, mudando o hino, nem a nossa história.

 

Os canhões esses devem sempre estar prontos e apontados para se quem destrói a construção de uma sociedade mais justa, mais nobre e o mais igualitária possível.

Marchar sempre, contra a corrupção e que mina a democracia e as instituições alimentando cada vez mais e forma galopante os extremos.

Marchar sempre, contra as políticas que levam o país a ficar cada vez perdido, sem rumo e cada mais pobre, afastando-se dos seus parceiros europeus.

 

É apontado esses os canhões da glória que nos deixarem e marchando contra o estado a que isto chegou que se alcança a paz e a liberdade.

 

Deixemo-nos então de questões acessórias que não acrescentam nada à resolução dos nossos problemas e passemos ao realmente que interessa que certamente não é alterar o nosso hino.

O natal: a verdadeira época da hipocrisia humana

Dezembro 21, 2022

Sérgio Guerreiro

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Se há uma época do ano em que se mostra o verdadeiro significado de hipocrisia, a que está a chegar é sem sobra de dúvidas uma delas.

O Natal, que ao longo dos tempos tornou-se uma época totalmente mercantilizada a sua tónica passou a ser o consumismo desenfreado.

 

Esta época, nada mais é que uma mera organização e planeamento de uma festa com o pretexto de reunir a família como se fosse necessário a existência de um calendário de parede, ou mesmo de um lembrete no telefone, para que sejamos recordados da data para o efeito, fazendo parecer que para tudo isto há um prazo.

 

Talvez dizer-se que não se gosta do Natal, possa ser sinal de que não se está bem ou que a família é um elo secundário na vida de quem não gosta desta época.

No entanto, e como acontece na maioria das épocas que são assinaladas pela sociedade em que o marketing diz de imediato presente, o natal é nada mais nada menos que uma simples data inventada pelo mundo católico que nos quer fazer acreditar que no dia 25 de dezembro nasceu um menino de nome Jesus que é o salvador do mundo, da mesma forma que inventou que a sua mãe , uma tal de nossa senhora qualquer, parece ter concebido sem “ pecado”.

Ou seja, a tal senhora que pariu o seu filho, o tal Jesus, parece que não teve qualquer contacto sexual com o seu cônjuge / companheiro da altura, nem com qualquer outro homem. Segundo reza a “ lenda”, a senhora engravidou sim mas permaneceu sempre virgem e foi o anjo Gabriel que lhe veio anunciar a boa nova.

Teria sido um tal de “ Espírito Santo” o culpado por ter engravidado a senhora sem sequer lhe tocar com um dedo que fosse segundo as suas alegações. Já naquela época a  família “ Espírito Santo” teria má fama, que com o passar dos séculos se foi provando. Não só a fama mas também o proveito. Portanto, parece ser claro que Maria, a tal mãe de Jesus, traiu José, o companheiro da época. A coisa ter-se-ia complicado quando ele descobriu a “ traição”, mas o “ Espírito Santo” veio e explicou tudo numa espécie de comissão de inquérito que se fazia na altura para casos assim como este. José acreditou no “ milagre” e a opinião pública da altura também, até aos dias de hoje.

 

Há conta de tudo isto e em nome da fé, lá vai caindo chorudas quantias de dinheiro nas contas bancárias de alguém.

 

Com o devido respeito por quem acredita  no simbolismo religioso da data, o que devemos essencialmente de gostar e de desejar é a não existência de pretexto algum para ligar a alguém ou reunir ais amigos e a família à volta de bom arroz de polvo.

Este natal, a forma como a data está convencionada nossa da sociedade, não nos devia servir para nada nem para reflexão nenhuma enquanto seres dotados de humanidade, porque nenhum de nós deveria precisar verdadeiramente do natal para nada.

A questão de fundo é então perceber porque razão alguém ainda precisa do natal para se humanizar, para ser solidário ou mesmo para sentir compaixão pelo outro. É aqui que tudo está mal.

 

O natal tornou-se um vício anual onde a solidariedade parece ser uma obrigação moral. As palavras de conforto aos outros vão passando de dezembro em dezembro onde por vezes o que sentimos e o que vimos, não é o amor nem celebração alguma. No fim de contas, quem está sentado ao nosso lado é somente o cinismo porque no natal tem que ser assim.

É talvez a época do ano em que tudo é excessivo. A comida, as pessoas a correr pelos corredores dos centros comerciais, o excesso de trânsito e de greves e por aí adiante.

Aceito que tudo aquilo que digo e penso sobre esta tão farsante data possa ferir aqueles que fazem do natal uma grande festa da família, e dizer que não gosto mesmo nada do natal possa ser visto como um grande pecado, mas o que na verdade me importa é gostar de pessoas todos os dias e de estar com elas sem calendários e sem lembretes.

 

Desculpem-me a franqueza, mas isto faz-me lembrar um pouco o dia dos namorados, em que para muitos e muitas; o almoço é com a/o amante e o jantar é com a/o legítimo/a. Em suma: isto é tudo uma farsa sem jeito nenhum.

No dia 26 de dezembro tudo continua igual e nada mudou, quando na verdade o que é necessário é mesmo fazer com que tudo mude. Que se acabe com este Natal.

 

Quando se põe a mama de fora. Amamentar em público ainda é tabu?

Abril 03, 2021

Sérgio Guerreiro

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Pode parecer-vos estranho um homem falar sobre isto.

Mas a razão é simples e conta-se rapidamente. O domingo estava radiante e o sol pedia-me um pequeno passeio pela marginal da cidade da Figueira da Foz. Devagar, ia saboreando a brisa que vinha longe mas de vez em vez, alguns mais apressados, como se o tempo fosse fugir, iam correndo para o tentar apanhar atropelando os mais calmos.

Resolvo sentar-me mesmo ali nas pedras frias que o sol de domingo se esqueceu de aquecer para contemplar qualquer coisa no horizonte que ainda hoje não descobri o que seria. Por certo não era importante.

 

Eis que quando a meu lado, com a devida distância de segurança como mandam ainda as regras, se senta uma jovem mãe com um bebé de colo.

 

São os bebés que ditam as horas.São eles agora os ponteiros do relógio da vida de qualquer mãe, que minuto menos minuto, estão sempre certos porque são regulados pela exatidão do seu choro que às vezes não tem lugar. Foi naquele momento que  o bebé disse à sua mãe, que horas eram.

A jovem apressadamente tira a sua mama para fora devolvendo-a rapidamente à sua cria faminta. Momentos depois, aquela mãe sorriu para mim como a querer pedir desculpa pelo incómodo do choro da criança que de alguma me poderia perturbar a tal contemplação de qualquer coisa que não sei o que seria  para lá do horizonte. Devolvi-lhe sossegadamente o sorriso quando ela levemente me diz de forma pausada  : “ está na hora”. Respondi-lhe: " agora é ele o seu relógio". 

A questão poderia ficar por aqui. Mas não fica.

Ali sentada a dar alimento a quem o pedia, muitos iam passando e olhando, uns com ternura outros disfarçadamente, sem me aperceber se era para o bebé  se para a mama ou mesmo ainda, alguns, que olhavam como se olha com desprezo para alguém que acaba de  cometer um crime sem possível defesa.

Foi esse o olhar de um transeunte, que não se inibindo de o verbalizar, teceu  o mais incómodo comentário que ouvi o sobre esta situação.

- " Ao menos ponha um pano a tapar a mama”.

Não era eu que a tinha de fora, mas fiquei incrédulo com tal afirmação mas, de certa forma até me senti “ feliz"  porque notei que aquele triste comentário não foi percebido pela jovem mãe. Ou teria ela fingido não o perceber?  

Fiquei com aquelas palavras ainda hoje a latejar na minha cabeça sem conseguir entender porque razão um acto entre uma mãe e o seu bebé, como é a amamentação, ainda pode ser encarado por alguns como um acto de exibicionismo.

A amamentação em lugares públicos é legalmente aceite pelo nosso ordenamento jurídico mas será que todas as mães se sentem à vontade para o fazer?

Em 2016 no estado da Georgia, EUA, uma mãe foi obrigada a interromper a amamentação do seu filho por um polícia enquanto estava num supermercado.

Segundo o relato de Savannah Skukla, o agente dirá dito que a prática era proibida e precisaria de se tapar porque alguém podia achar aquele acto ofensivo.

Muitos podem considerar que amamentar deve ser em reservado, num recanto onde ninguém veja, mas o certo e pelo que assisti, em 2021 ainda há quem se sinta incomodado ao ver a mãe natureza a cumprir o seu papel da forma mais natural possível quando um bebé tem fome como se não a pudesse ter enquanto passeia pela rua com a mãe.

Não deveria ser necessário contar-vos esta história, mas infelizmente parece que ainda há muito que falar sobre este tema em pleno século XXI.

Ciência. Não é a palavra do ano mas devia de o ser.

Dezembro 30, 2020

Sérgio Guerreiro

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Assim como os países investem regularmente na saúde, educação ou mesmo na evasão fiscal, de pouco se fala em investimento na ciência.

 

A vacina já chegou, mas para isso acontecer, muitos antes existiu por parte de inúmeros especialistas uma grande dose de entrega pessoal e de conhecimento para a descoberta daquilo que hoje está à nossa disposição.

 

Pandemia, com raízes no grego, é uma combinação de “pan” para tudo ou todo, e “demos,” para povo. Foi esta a palavra do ano de 2020, que naturalmente invadiu cada um de nós na busca incessante de respostas para o novo estado do mundo.

 

A ciência não confinou como todos nós e lançou-se na resposta que toda a humanidade precisaria. E cá está ela.

 

Mas pode um país reagir rapidamente e estar preparado para responder de modo eficaz a uma urgência como esta que temos assistido?

 

É preciso investir com a mesma regularidade na ciência como se faz em outras áreas sociais.

 

Diana Lousa, em entrevista ao jornal Público  afirma que tem pesquisado por grupos científicos que investiguem a proteína da espícula, essencial para os coronavírus consigam penetrar nas nossas células, tem notado que houve picos nessa investigação. A cientista do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa, em Oeiras, reparou que houve mais trabalhos científicos no tempo das epidemias do SARS-CoV (que ocorreu entre 2002 e 2003) e do MERS-Cov (em 2012). “Julgo que os coronavírus não eram vistos como muito relevantes até ao surto do SARS-CoV”, assinala a investigadora. “Antes disso, infectavam sobretudo animais e havia só alguns que infectavam humanos, mas que causavam coisas muito moderadas.”

 

Como tal, indica que era difícil arranjar financiamento para estudar estes vírus. “Não eram vistos como ameaças assim tão grandes. Acho que é um pouco errado porque devemos estudá-los não só quando são uma emergência. Quanto mais soubermos de antemão melhor”

 

Estes novos tempos são essências para que possamos, não só aprender onde falhamos nas relações humanas e pessoais como entender de uma vez por todas, que a investigação na ciência poderá certamente ser a receita para o desenvolvimento das sociedades num futuro mais seguro. Na investigação e em todo o seu processo de estudo são precisos anos e anos de pesquisa e muita literatura técnica para se chegar a um determinado resultado.

 

Diz-nos Rogério de Jesus Jorge no seu artigo de opinião em observador sobre esta matéria que, Alexander Fleming, o inventor da penicilina, trabalhou como médico militar numa das grandes crises do século XX, a Primeira Guerra Mundial. A partir daí, Flemming ficou determinado a encontrar algo que permitisse combater infeções no corpo humano. O resultado veio dez anos mais tarde através de duas descobertas acidentais. Primeiro, notou que o muco do nariz proveniente de um espirro poderia matar bactérias. Segundo, ao deixar um prato de bactérias à janela, o prato começou a acumular bolor. Flemming reparou que bactérias em contato com o bolor eram destruídas por uma espécie de mould juice (sumo de bolor). A este sumo ele chamou penicilina.

 

Portanto, muitas das vezes o que a história da ciência assim nos ensina é que nasce das crises sociais as maiores das descobertas.

 

Uma estratégia a longo prazo em investimento na investigação/ciência, é sinónimo de um país que se preocupa com o seu desenvolvimento também ele a longo prazo.

 

A pergunta que poderemos  legitimamente fazer é saber, se os Portugueses que se dedicam a estas matérias, poderiam ou não serem eles a desenvolver e criar a vacina  para a Covid-19? A resposta pode ser simples. Capacidade não lhe falta, mas  os meios não existem porque não se apostou numa política adequada ao desenvolvimento da investigação. Por alguma razão, os nossos melhores Portugueses estão lá fora.

 

Não tenhamos dúvidas. A vacina poderia ser desenvolvida por nós.

Não o foi porque se desinvestiu na investigação e na ciência.

 

Esta crise pandémica veio por a nu a necessidade de maior rigor, mostrando que não há dinheiro perdido quando a sociedade com os seus impostos, encarrega a ciência de estudar e desenvolver o que quer que seja, para nos impedir de sentir saudades de alguém que está perto.

 

Se o nosso país percebe isto?

 

Não sei. Mas 3,7 mil milhões do Estado até 2024 para a TAP o nosso governo soube entender.

Eutanásia. Referendar ou não referendar, eis a questão.

Outubro 20, 2020

Sérgio Guerreiro

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Volta ainda durante o mês de Outubro, no dia 22 ou 23 e antes da votação da proposta de Orçamento de Estado na generalidade, a votação para o referendo da eutanásia. A proposta de referendo chegou à Assembleia da República pela mão da “ Federação Pela Vida” que reuniu cerca de 95 mil assinaturas.
Constitucionalmente é da exclusiva competência da Assembleia da República votar e decidir uma proposta popular. Dificilmente o referendo vai ter lugar. Erradamente, diga-se. Este tema talvez já estivesse fechado e democraticamente legislado se a via escolhida inicialmente fosse a consulta popular. Leia-se, referendo.
Há defensores do sim , do não e do “ nim”. Há de tudo e para todos os gostos, mas há, isso sim, uma responsabilidade política que não está nem deve estar nas mãos de 230 deputados. As questões de consciência não são objectos de decisões parlamentares. Não o podem ser.
A liberdade da nossa consciência , negando o direito de decidir sobre ela, está posta de parte.

O tema da eutanásia não é uma questão menor. É difícil, fracturante que deve ser despojada e debatida sem fundamentalismos. Por ser uma questão de consciência e da nossa própria vontade ela é exclusiva da nossa esfera pessoal. É uma questão que diz respeito a cada um de nós.

Negar o direito ao referendo é, creio, incompreensível. 

Mas o tema vai para além da necessidade do referendo por um imperativo de consciência. Caso não haja o direito à manifestação da nossa opinião, é chocante ver que 230 deputados possam legislar sobre um tema em que a sua maioria não o inscreveu nos seus programas eleitorais.

Qual é então a legitimidade política que os senhores deputados terão para legislar sobre algo que muda radicalmente a nossa forma de ver a morte ou a vida?

Não entrando na questão jurídica demasiado maçadora no que concerne  a Direitos Fundamentais e princípios Constitucionais bem como a Declaração Universal dos Direitos do Homem, interessa interrogar a questão política e ética. 

E é esta ética que não encontro. Legislar a vontade e a consciência de milhares com a agravante política de que  nada se disse em campanha sobre o tema eutanásia. É legítimo os senhores deputados legislarem? É, mas falta nesta questão um outro grande princípio. A autenticidade política. Nem tudo o que é legítimo, é autêntico. Direi, salvo melhor opinião, que este é um desses casos de falha da autenticidade.

Não vejo argumentos juridicamente relevantes para que não se devolva a palavra ao povo como se levou na  despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IGV) que precisou de dois referendos e cerca de 10 anos para a sua despenalização. 
Houve muito debate e este tema talvez fosse o mais fraturante com que Portugal já se debateu. Mas nós  Portugueses capazes de tomar decisões, falamos e decidimos. Uns ficaram felizes outros nem por isso, mas as regras do jogo são estas em democracia. 

Não percebo o medo que há em agora não podermos igualmente decidir como já o fizemos no passado. 
Se nesta matéria os senhores deputados vão votar um (im)possível referendo de acordo com a sua consciência e em nome da nossa, prefiro que votem para que nos devolvam a palavra.

Erradicar a pobreza. Testemunhei o que é mesmo ser pobre.

Outubro 17, 2020

Sérgio Guerreiro

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Não sei, felizmente, o que é ser pobre e passar fome mas consegui perceber com uma dor enorme no meu olhar o que é mesmo ser-se pobre e passar fome.
Ainda há vergonha de pedir  mas quem sente ao seu redor essa mesma vergonha não pode ficar indiferente a ela.
 
Mesmo à minha porta não via ou não reparava na extrema pobreza em que algumas pessoas vivem. 
Mas um dia parei e senti o cheiro a fome que andava ali em redor e decidi avançar para ela.
A Maria ( nome fictício ) olhava para mim como quase todas as tardes,  mas naquela tarde quem me olhou foi a fome. 
Entrei no carro com uma sensação estranha, mas não avancei. Sai de novo e foi ter com a Maria. Confesso que aquele olhar me incomodava bastante. A pergunta foi feita e a resposta era a esperada. Eram três da tarde e aquela mulher ainda tinha visto uma simples côdea de pão. Isto é duro de ouvir como deve ser duro sentir. Decidi fazer aquilo que qualquer pessoa faria.
 
Pedi à Maria para esperar por mim. Entrei de novo em casa para lhe fazer uma sandes que fiz acompanhar com um pacote de leite com chocolate. Os olhos daquela mulher virão depressa outra cor.

Este foi o mote para a Maria logo no dia seguinte fosse tocar à campainha do meu escritório. Sentiu -se livre e forte para o fazer.
 
Avisou de imediato que não vinha pedir dinheiro, mas sim comida e que não o pedia a muita gente por vergonha, porque no meio pequeno em que vivia não se sentia bem a fazê-lo, olhavam muito para ela, dizia. Todos sabiam que a fome rondava os dias na humilde casa onde vivia com rendas em atraso, mas ninguém se chegava perto. Ninguém lhe perguntava se já tinha comido, se tinha alguma coisa em casa para se alimentar. 

Estivemos à conversa durante uma hora onde tentei perceber se a Maria já tinha recorrido a alguma ajuda do Estado. Já tinha, mas a ajuda era de 300€ e a renda era de 250,00€. 
Pedi à Maria para tocar de novo à campainha do meu escritório durante na tarde dessa quinta feira. Não faltou à chamada, mas a fome, essa nunca faltava. 
Levou três sacos do que entendi ser necessário para ela poder confecionar. A Maria chorou, não de vergonha, mas de alguma pura felicidade por saber que durante uns dias, a fome não lhe bateria de novo à porta.
 
Em Portugal existe muitas “ Marias” e nós passamos ao lado delas como se nada fosse onde muitas vezes ouvimos o barulho de um estômago vazio. Ouvimos só e seguimos o nosso caminho, atravessamos a estrada e vamos comprar um bola de Berlim que não nos faz falta nenhuma. 
 
Erradicar este flagelo não é só uma questão política. É e deve ser uma questão de consciencialização social. Não nos podemos imiscuir do papel que temos enquanto membros de um todo mas isso caberá certamente a cada um de nós. 
A pobreza pode morar mesmo ao nosso lado, ser nossa vizinha e se não entendemos que a vergonha ainda invade o estômago de muita gente, não estamos a cumprir com o nosso papel social. 
Às vezes, ou muitas vezes, o primeiro passo pode ser dado por nós se soubermos e olhar à nossa volta e para outros.
 
Hoje comemorasse o Dia Internacional da Erradicação da Pobreza. Em 2019 estimava-se que cerca 2,2 milhões de Portugueses se encontravam em risco.
 

 

A privacidade é um bem inalienável.

Outubro 15, 2020

Sérgio Guerreiro

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A equipa do blogue Melhor Política, aqui representada pelo seu Editor e Publisher Sérgio Guerreiro, torna público que acabou de lançar uma petição on-line contra a obrigatoriedade da instalação da App “Stayaway Covid”. Entendemos que esta medida para além da sua inconstitucionalidade é  absurda e contém graves tiques de totalitarismo que são inaceitáveis. Não podemos nunca deixar em claro como se nada fosse e  sob a égide de uma Pandemia, que as forças de segurança em representação do Estado Português, queira fiscalizar os nossos equipamentos sem justificação plausível e sem mandato judicial.
As medidas repressivas na situação especial quente travessa, são altamente perigosas e esta em particular é autoritária que mostra um sinal evidente de completa desorientação por parte das autoridades nacionais. Entendemos como recomendável o uso da aplicação em causa e esta deverá manter-se voluntária.
Impor por Lei questões desta natureza que põem em causa a privacidade dos cidadãos, é uma acto anti-democrático que não se adequa ( ainda ) ao nosso Estado de Direito. Relembramos que na União Europeia, o uso obrigatório desta aplicação não está instituída. Informamos que a petição em causa não tem como objectivo chegar à Assembleia da República, mas sim mostrar o desagrado como todo este processo se está a desenvolver.
Podem consultar a petição com o título “Contra a obrigatoriedade da instalação da App “ Stayaway Covid” em peticaopublica.com

Pela equipa

Sérgio Guerreiro

melhorpolitica.online@gmail.com

A falta justificada pela morte de um animal de companhia. Um acto de coragem.

Outubro 11, 2020

Sérgio Guerreiro

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Veio da deputada Cristina Rodrigues, antiga representante parlamentar do PAN a proposta de estender o regime de faltas justificadas à morte de um animal de companhia. Depressa as redes sociais se encheram de comentários sobre  a proposta da deputada agora não inscrita como é seu apanágio com exemplos tão absurdos como” tenho imensas galinhas, quando morrer uma também quero folga” ou “ tenho aqui umas baratas e formigas de estimação fofinhas...”
A perda de um animal de companhia é tão dolorosa como a morte de um familiar mais próximo ou de um amigo chegado, e só quem perdeu um animal saberá entender a “Ratio Legis “ ( razão de ser ) da proposta apresentada. Quem viveu essa perda certamente se revê totalmente na ideia. Quem não viveu  dificilmente a entenderá tão bem.
Não se trata de uma proposta descabida. É isso sim, uma proposta representativa do conhecimento da autora sobre a dor imensa que é provocada pela morte de um cão ou de gato. 
Na realidade a relação humana com os animais de estimação é cada vez mais acentuada e por isso legislada, estando provado que eles são capazes de tornar o ser humano mais feliz, e com muitas outras características próprias dos animais, eles podem ajudar em períodos difíceis da vida do ser humano.
Sejamos sérios na discussão nos temas. Li muito por aí sobre esta proposta mas creio que para além de justa ela é muito mais que isso. É corajosa.
Dizer-se que se está a radicalizar a situação, que se está a dar demasiada importância aos animais quando o País atravessa uma crise financeira e social nunca antes vista, é uma verdade subjectiva,  mas de qualquer forma creio ser útil habituar a sociedade a discutir também estes temas.
Ser sérios numa qualquer discussão, é entender sempre o outro lado, ou se quiserem, calçar as botas dos outros.
Entender que a morte de animal de estimação pode provocar um grande sofrimento ao ser humano tal como a morte de um familiar ou amigo chegado, é perceber que estamos no caminho da humanização das coisas. A relação forte que é vivida entre o humano e o seu animal é por vezes tão intensa e verdadeira que há quem os trate como “ filhos ou como netos”. Se bem ou mal, aí a discussão pode ser outra.

Se percebermos as ligações e os laços que se criam entre a racional e o irracional, certamente entenderemos muitas outras coisas que fazem falta. Falem com João Moura que ele explica isto melhor que eu!

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