Obrigado Eunice.
Novembro 28, 2021
Sérgio Guerreiro
Aos 93 anos Eunice do Carmo Munhoz despede-se dos palcos e das palmas na representação da peça, a par com a sua neta Lidia “ A margem do tempo. Foram 80 anos de uma carreira dedicada ao teatro. Começa aos 13 anos ( 1941) e estreou-se profissionalmente no Teatro Nacional D. Maria II, na peça "Vendaval", de Vírginia Vitorino, no papel de Isabel, numa encenação de Amélia Rey Colaço.
A peça com a qual Eunice se despede dos palcos é do autor alemão Franz Xaver Kroetz (1946), a peça revela-se "uma longa didascália", "sem monólogo e sem diálogo", no qual a senhora Rasch, personagem partilhada pelas duas atrizes, convida os espectadores a assistirem a um final de tarde num dos seus dias repetidos, igual a todos os anteriores.
Com música original de Nuno Feist e encenação de Sérgio Moura Afonso, "A margem do tempo" põe diante do público a humanidade de uma mulher mais velha, Eunice Muñoz, que vai relembrando a monotonia dos dias repetidos, que se materializam numa mais nova senhora Rasch, Lídia Muñoz, que vai caminhando em direção ao seu "eu mais soturno e nostálgico"
De sorriso brilhante e inigualável, Eunice é e será uma lenda do teatro Português. Na casa onde se estreou, teatro D.Maria II em Lisboa, cai agora o pano das recordações, e nós Portugueses, devemos a esta magistral actriz o poder de sentir as diversas emoções.
Eunice Muñoz deu ainda voz a quatro discos de poesia, tem sido presença assídua em novelas e séries televisivas, entre as quais “A banqueira do povo” (1993), um trabalho inspirado na história real da banqueira Dona Branca e na qual “vestiu” a pele da protagonista.
Dos sorrisos às lágrimas, dos arrepios na pele à alegria momentânea, Eunice deu-nos tanto mas tanto, que o nosso agradecimento deve ser sempre relembrá-la respeitando o teatro e os actores. É essa a nossa responsabilidade. Se para Eunice Munhoz “ o teatro mostra-nos que o belo ainda existe”, para todos nós a Eunice representa uma geração de actores e actrizes resilientes. Ela é a representação viva e máxima que o amor pelo se faz, não tem idade para ser feito. O testemunho que Eunice Munhoz agora passa à sua neta, ficará certamente bem entregue. O pano para Eunice Munhoz nunca desce e as palmas, essas nunca terminarão.
Obrigado Eunice.