Morreu um herói ou um vilão?
Julho 25, 2021
Sérgio Guerreiro
Um dos rostos mais conhecidos do nascimento da liberdade em Portugal, morreu hoje aos 84 anos. A história de Otelo Saraiva de Carvalho, confunde-o entre o heroísmo e terrorismo. Líder operacional da Comissão Coordenadora e Executiva do Movimento dos Capitães, elaborou o plano de operações militares do 25 de Abril de 1974.
Na sequência dos acontecimentos de 25 de novembro de 1975, Otelo foi afastado de todos os cargos, nomeadamente o papel do comando efetivo do COPCON, acusado de ter determinado uma série de ordens de prisão arbitrárias, e de maus tratos a centenas de cidadãos moderados, envolvidos no processo político. Manteve-se, porém, como membro do Conselho da Revolução, lugar que ocupava desde março de 1975, e onde permaneceu até dezembro do mesmo ano.
Conotado com a ala mais radical do MFA, foi preso na sequência dos acontecimentos do 25 de novembro de 1975, sendo libertado três meses depois. Candidatou-se então às eleições presidenciais de 1976, onde obteve mais de 16% dos votos.
Em 1980 criou o partido FUP - Força de Unidade Popular, e voltou a candidatar-se a Belém, mas desta vez a sua votação foi irrisória, ficando abaixo de 1,5%, para um total de cerca de 85 mil votos. A 25 de novembro de 1983 recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, perante um coro geral de contestação das alas mais moderadas da sociedade portuguesa, por já estar acusado de ter liderado a organização terrorista FP-25, responsável pelo assassinato de 17 pessoas a tiro e à bomba.
Nos anos 80, participou da luta armada em prol da revolução proletária como membro da organização terrorista Forças Populares 25 de Abril, tendo sido condenado a 15 anos de prisão por associação terrorista em 1986. Em 1991, Otelo recebeu indulto por seus crimes, que foram amnistiados em 2004. Para muitos, Otelo fui o rosto da liberdade que se consegui. Figura controversa da história de Portugal, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho, será recordado para muitos como um herói e para outros um vilão. Se todos lhe devemos o melhor da nossa história, também a ele se deve o caos em que o país mergulhou após 25 de Abril de 1974. A história deste homem que Portugal nunca conseguiu definir, terminou hoje.