Se há algo que importa reter nas inúmeras comissões parlamentar de inquérito sobre o BES a que temos assistido, é o papel da importância ao nível do conhecimento que é dado à sociedade portuguesa para que esta perceba de vez em que tipo de país vivemos. Sem a transmissão directa de todas as CPI e que está alcance de todos a qualquer momento no site da ARTV, o mais certo seria não ter o conhecimento devido e tão aprofundado sobre a promiscuidade entre os vários sectores da sociedade portuguesa ao longo desta década.
Da política à banca, passando pelo futebol, ninguém escapa ao escrutínio público, e entendemos agora perfeitamente, a razão de muitos se oporem a que todos os Portugueses possam ouvir os dislates que por lá são ditos. É bom relembrar que quando Joe Berardo se descolou ao parlamento o seu legal representante fez tudo por tudo, sob a égide da proteção da imagem do seu cliente, para que não fosse transmita a audição em directo. Não conseguiu.
Poderão muitos perguntar com toda a legitimidade: “ mas aquilo das CPI dará algum resultado? Direi: já deu.
Ficamos todos a saber quem deve, como deve e como não quer pagar, sobrando inevitavelmente a conta para todos nós.
Ficamos também a saber que o BES, era sem dúvida o melhor banco português a dar crédito. Sem constituir garantias ou sem deligenciar o seu reforço, concedia empréstimos a empresas sem capacidade financeira alguma para honrar as suas obrigações.
O banco não era esquisito e talvez lhe chegasse a palavra de honra de alguns empresários.
Nós, os comuns portugueses que somos tratados como simples pagadores disto tudo, vemos todos estes acontecimentos de uma única forma à luz do que vamos ouvindo.“Se eu devo 100 euros ao banco, tenho um problema, mas se eu dever 100.000 euros o problema já e do banco”.
Caso para dizer, que quando eu for mais crescido quero mudar de profissão e gostaria, talvez como muitos portugueses, de também ser um grande devedor. Pelos vistos, há mais vantagem e ainda posso ser presidente de um clube de futebol mesmo sem perceber nada do assunto.
A questão essencial é só esta : o valor que já pagamos de todas estas aldrabices e restruturações, o montante já vai em 9 mil milhões que foi directamente canalizado para os cofres do Novo Banco.
Parte deste montante, foi para cobrir imparidades na ordem dos 400 milhões de euros considerados perdidos por créditos concedidos ao grupo Promovalor de Luís Filipe Vieira em que este teria ficado espantado por ser considerado o segundo maior devedor do BES/ Novo Banco. Mas a sensação que ficou enquanto o ouvia, era que afinal o presidente do Benfica não estaria a prestar declarações para que se saiba porque razão não paga o que deve, mas sim na qualidade de lesado do BES.
As restruturações de dívida, embora possam ser consideradas pontualmente “ normais" na relação comercial entre a banca e um grupo empresarial, não deixa de ser estranho quando estas mesmas restruturações passam a ser, não meras e pontuais restruturações, mas sim, consecutivas restruturações sem que se pague um euro ao longo de uma década.
Isto não acontece no mundo real das empresas sérias, acontece isto sim, num outro mundo parcelo.
Acontece no mundo dos negócios daqueles que antes de pedir créditos já terão todo o esquema montado para não o pagar.
Que fique claro dois pontos essenciais nisto tudo:
1-Luís Filipe Vieira e outros não vão pagar um euro das suas dívidas;
2-Somos nós a sustentar a vida de Luís Filipe Vieira e de outros como ele.
Para os benfiquistas, também ficou claro que Luís Filipe Vieira ocupa o lugar da presidência do Benfica, não porque o queira, mas sim porque os bancos o pediam.
O segundo maior devedor do BES pode querer passar-se pelo segundo maior lesado do BES, mas nunca conseguirá, graças a esta comissão parlamentar de inquérito ao BES que todos nós podemos assistir, voltar a ser o empresário respeitável como muitos pensariam que o fosse e que sempre o próprio quis transparecer.
A importância de sabermos estas coisas, é de elevada importância e dá-nos a perspectiva correcta de como anda muita gente a viver à nossa conta. Um deles, é o Presidente do Benfica que afinal nem o queira ser.
Mas com tudo isto, quantos portugueses andam a pagar com o esforço do seu trabalho as dívidas do segundo maior devedor do BES? Todos.