15 dias para quem casa e 5 para quem vê morrer um filho.
Setembro 14, 2021
Sérgio Guerreiro
Tomamos como certo, a ordem natural das coisas como regra. Mas como sempre e como quase como tudo na vida, um dia, a tal ordem natural das coisas choca de frente com a regra que a vida nos habitou e eis que, surge sem avisar, uma realidade que faz a vida perder todo o sentido. Perder um filho, não está “ incluído” no verdadeiro conceito de “ ordem natural das coisas. A normalidade é assistirmos aos filhos verem os seus pais partirem.
Com a perda de um filho, vive-se com uma dor tão insuportável que se questiona tudo: a fé, a existência e até a necessidade de se continuar vivo, e num ápice, o caminho que se vai percorrendo já não é aquele; é outro que não se conhece mas já se sabe que será sempre muito escuro. A pergunta, que para qual nunca se obtém resposta, surge: porquê?
E partir desse momento, procura-se sobreviver, porque a bem da verdade, a vida de um pai e de uma mãe que vê morrer filho, deixa de ser vida. É apenas e somente, metade de vida.
Como filho de pais que perderam um filho, posso testemunhar com total propriedade como é viver e conviver dia após dia, com uma dor que não sendo minha, a tomo como tal. Talvez para aliviar o seu peso ou para o dividira três.
Talvez assim lhes custe menos, mas de nada me vale, porque daquilo que é feito o tempo que atenua a dor é o mesmo tempo que não a cura. Sei daquilo que escrevo, na esperança que nunca saibam aquilo que sinto. Como obrigação voluntária, e assumindo-a com total clareza, passei a ser o “timoneiro” deste pesado barco que vai navegando por águas tantas vezes turbulentas. Se o consigo levar a bom porto ? Não sei. Nem quero saber.
Quero só sentir que ao levar todos os dias aos ombros este meu desígnio por mim escolhido, que o faço com um só propósito: ajudar que o tempo que atenua a dor mas nunca a faz esquecer, seja mais veloz e que passe rápido.
Por tudo isto, creio ser um dever dar a máxima relevância a uma petição on line que corre da associação Acreditar, que propõe o alargamento da licença pela perda de um filho de cinco para vinte dias.
De acordo com a legislação em vigor, a falta pela morte de um filho é considerada de justificada por 5 dias. Não é por existirem mais 15 que a dor se minimiza, aliás, a dor, essa dor que é vivida dentro do seio familiar, nunca mas nunca passará. No entanto, não posso deixar de salientar para o facto do projecto apresentado pelo PAN a par com a petição que corre pela internet, e que se prevê ter o apoio de todos os quadrantes políticos para que seja aprovado o alargamento para 20 dias de faltas justificadas no caso da morte de um filho.
Para além de ser da mais elementar justiça, tratar-se-á antes de mais de uma questão humana. À luz da lei neste momento, quem casar terá o direito a 15 dias de faltas de justificadas e quem que vê um filho morrer, só poderá ver justificadas 5 dias de ausência ao trabalho. Não se entende como não se pode aceitar, que a celebração de um casamento que tantas vezes acaba mal, mereça mais dias “ extra “ que uma dor que se carrega para a vida inteira.