A inconcebível e terrível desumanidade no Hospital de Loures.
Outubro 29, 2023
Sérgio Guerreiro
A falência do país é nítida, notória e grave. Assistimos todos os dias a um constante atentado ao Estado de Direito e ao Estado Social . Portugal falha em todas em frentes. Uma mulher de 32 anos, grávida de oito meses, soube na passada terça-feira, numa consulta no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, que a bebé estava morta e teria de remover o feto. Foi enviada para casa nesse e no dia seguinte por falta de vagas.
A Tânia, foi mais uma vítima da falência do País e do ministro da tutela, nem uma palavra.
A inimaginável história desta nossa compatriota, deve fazer-nos refletir.
Não somente aos órgãos competentes e executivos mas também a cada um de nós na medida em que hoje, com a falência total no nosso Estado Social, o que tristemente aconteceu à Tânia Dias pode perfeitamente acontecer a qualquer mulher grávida deste país.
Portugal, trata-nos mal. As instituições e os serviços aos quais recorremos quando deles precisamos, para além da sua escassez material, estão desumanizadas.
O caso da Tânia não é, creio, só um caso de falta de recursos ou de vagas, tem contornos de falta de capacidade humana para se perceber que uma mãe nas condições análogas à Tânia Dias não poderia ir para casa com a sua bebé morta dentro dela. Estará assim em jogo não só a sua saúde física mas também, e muito importante a sua saúde mental.
Toda esta história, torna este país indigno. Um país que maltrata as grávidas como se não fosse preciso fazer crescer o índice de natalidade é um país que não serve o seu desígnio.
Estamos a viver tempos estranhos.
É urgente parar para pensar e reflectir na sociedade que estamos a destruir em que todos se estão a borrifar para todos.
Atingimos os limites da razoabilidade social. E o mais grave, é que assistimos s isto “serenamente” como se tudo fosse normal e aceitável dento do âmbito da esfera pública dos serviços. Não o é em lado nenhum.
É indigno ler a história desta jovem que quis ser mãe, mas enquanto o destino lhe trocou as voltas à vida, o hospital de Loures trocou o mais básico princípio humano - o respeito pela dor de uma mãe - por uma incompreensível e desumana atitude.
Enquanto é tempo não será necessário existirem mais vítimas mas isso só acontecerá quando a consciência daquele que manda, que analisa e que toma decisões, se tornar mais compreensível, mais humanista e parar por um segundo apenas para pensar na dor dos outros.
Com tudo isto fica uma simples pergunta:
Valerá a pena acreditar nos homens que hoje mandam ?